Maior feira de vinhos da América Latina, a Expovinis, acontece todos os anos no mês de abril. A divisão por países participantes é, todo ano, basicamente a mesma: 60% são expositores sul-americanos. 39,9% são de tradicionais produtores do Velho Mundo, como Portugal, Itália, Espanha e França. A conta fica redonda com a presença de O, 1% de vinhos produzidos em lugares, digamos, exóticos.
Para ganhar o titulo de exótico e começar a ser comentado, tipo fofoquinha, na feira inteira, o vinho precisa ter uma (ou todas!) das seguintes características: distância em relação ao Brasil; assemblage inédita; nome impronunciável; rótulo espalhafatoso e/ou uva desconhecida. Quanto ao tipo de garrafa, nada se comenta, pois, desde o traumático vinho da garrafa azul, ficou démodé colocar esse tema no corredor.
Em abril deste ano, os vinhos da fofoca e, naturalmente, estrelas da feira estavam expostos em dois estandes: da Rússia e da Grécia. Obviamente, os vinhos gregos a atuais não têm qualquer traço que possa ser comparado com os vinhos que Homero, Platão, Aristóteles e Hipócrates bebiam nos banquetes que deram inicio à filosofia ocidental. E, menos ainda, com o detestável retsina - vinho com resina de pinheiro que, no século XIII a.C., era pingada na bebida com o objetivo de conservá-la e que, para um bom número de gregos, representa a cultura vitivinícola do pais.
O grande salto para a era moderna foi dado por volta de 1980, quando a Grécia entrou para a então Comunidade Econômica Europeia e, finalmente, a regulamentação do vinho grego feita pelo Ministério da Agricultura, em 1971, pôde ser Implementada.
Isso quer dizer que, com a entrada do dinheiro da CEE, os pequenos produtores (a posse de terra na Grécia é quase tão fragmentada quanto na Borgonha) puderam investir em equipamento moderno e diminuir substancialmente o rendimento por pé de suas mais de 300 variedades de uvas nativas. Os nomes, aliás, assustam no primeiro momento, mas são fáceis dese pronunciar, basta ler conforme se escreve: stravoto, kotsifali, aglorgitiko, mavrodaphne são alguns deles para tintos, e robola, roditis, savatiano e assyrtiko são uvas para brancos.
Ligado na tendência, o pessoal da importadora Pasta Itália (3888-2848) encomendou algumas caixas de vinhos da Vinícola Domaine Costa Lazaridi.
O mix acaba de desembarcar e chega durante o melhor inverno carioca. São duas linhas Amethystos - cujo nome faz referência à lenda grega que diz que quem bebe com uma pedra de ametista no fundo do copo não fica bêbado. Provei o tinto e provaria outras tantas vezes, mesmo sem ter uma ametista. O vinho é agradável, fácil de se bebericar com um pedacinho de queijo de meia cura ou com uma comidinha despretensiosa, destas que a gente faz usando uma panela só.
A linha Chateau Julia, além do nome familiar, se apresenta com um exuberante tinto feito com elegante uva merlot, que, quando bem tratada, gera vinhos sofisticados, como é o caso aqui. Com boa concentração, pede uns 20 minutos no decânter antes de se servir e pode acompanhar uma enorme gama de pratos à base de carnes, desde os cortes tradicionais até as de caça.
Para não cometer injustiça entre brancos e tintos, deixei os brancos para provar no verão, que neste momento me dá saudades.
Sobre os russos, escrevo quando chegarem por aqui, combinado?
Até sexta-feira.
Por Deise Novakoski – sommelière e colunista do jornal “O Globo”
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