segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Oenotria – a terra das vinhas

Dia 28 de agosto estive presente numa degustação de vinho gregos no recém inaugurado deli e bistrô – Café e Cia, que fica na rua Visconde de Pirajá, próxima a Vinícius de Morais em Ipanema, Rio de Janeiro. O espaço é muito confortável, com som ambiente gostoso e convidativo a degustar um café gourmet ou mesmo harmonizar uma taça de vinho sob orientação e excelente serviço da dupla de sommeliers Katia e Kaká. A casa oferece uma seleção de vinhos de 187 ml e 375 ml para fazer par com as excelentes opções de torradinhas e pastinhas, com destaque para a de salmão defumado (uma maravilha!) ou queijos de ovelha da Serra da Mantiqueira, tipo gouda que desmancha na boca. Outra opção são as sardinhas portuguesas, com pimenta ou sem pimenta, quentinhas e servidas na hora com um pãozinho. Um ótimo programa para o fim de tarde / início de noite. Detalhe, toda semana estão realizando degustações por lá.

A palestra seguida de degustação foi promovida pelo sommelier e palestrante Fábio Xavier que nos contou um pouco sobre a história do vinho grego, o que resumidamente tentarei passar ao leitor:
Durante séculos o vinho grego era feito com a adição de resina de pinho misturada ao mosto e em seguida fermentados, tinham cor profunda, eram encorpados (mais do que hoje consideramos encorpado) e rapidamente se tornavam oxidados. São os ancestrais dos Retsina gregos, a única semelhança que guardam é o gosto de pinho. Hoje os melhores Retsina são secos e refrescantes e produzidos com técnicas modernas de vinificação.

Apesar de gosto por estes vinhos oxidados, viscosos e  profundos, foram os gregos e posteriormente os romanos, os primeiros a distinguir entre vinhos especiais e vinhos ordinários, aliás foram os romanos os maiores difusores do vinho gregos. Os vinhos especiais eram feitos de uvas secas ao sol, passificadas, enquanto que os vinhos ordinários eram feitos a partir de uvas colhidas verdes e postas para fermentar imediatamente. Os gregos e romanos também sabiam que um vinho fino só poderia vir de lugares especiais, é daí que vem a ideia original de terroir francês.

O vinho grego passou por momentos difíceis até ser o que conhecemos hoje. Sob o regime de Constantinopla ficou restrito ao consumo local, séculos mais tarde, na 2º Grande Guerra sua produção fica estagnada.

Somente décadas a frente, com a entrada da Grécia na União Européia foi possível que este país modernizasse suas adegas e vinícolas com a ajuda do pai da enologia Émyle Peynauld, que incorpora novas técnicas como tanques de fermentação com controle de temperatura e colheita da uva madura. Só em 1970 que surge o sistema de apelação de origem grego, copiado do modelo francês (AOC). Atualmente, uma pequena quantidade de grandes negociantes tomam conta do negócio do vinho na Grécia e com o tempo surgem inúmeras pequenas vinícolas-boutiques.

Ao todo são 12 regiões específicas para tintos e 8 para brancos que se distribuem nas duas categorias, os DOP (Denominação de Origem Protegida) e os IGP (Indicação Geográfica Protegida).
Nos IGP, vinhos de mesa com indicação geográfica, são permitidas a mistura de uvas da espécie Vitis vinífera ou Vitis em seus cortes ou mesmo a produção de varietais com pelo menos 85% das uvas procedentes da área geográfica indicada no rótulo. São 2 no total, Topikos oinos / Vins de Pays (TO) e Oenoi Onomasias Kata Paradosi / Appellation traditionelle (OKP).

Já os DOP, são vinhos com características exclusivas e particulares da área geográfica em que estão produzidas, 100% das uvas tem que ser Vitis vinífera. Na Grécia são 2 também, Oenoi Onomasias Proelefseos Elenhomeni / Appellation d´Órigine Contrôllé (OPE) e Oenoi Onomasias Proelefseos Anoteras Poiotitas / Appellation d´Órigine de Qualité Supérieure (OPAP).

Todos os vinhos degustados são do produtor Domaine Costa Lazaridi, pertencentes a denominação IGP Drama, localizada ao norte da Grécia. A vinícola de cerca de 200 hectares foi  fundada em 1992, nomeada como” Chateau Julia “em homenagem a esposa do proprietário. O artista local, Yianni Nanos, criou as pinturas que enfeitam a propriedade e os rótulos de seus vinhos e destilados. Foram pintados 30 quadros ao todo, eis aqui uma pequena amostra:


Amethystos White 2011 – Sauvignon Blanc / Semillon / Asyrtikos
Cor amarelo palha com reflexos verdeais, escorregadio. Aromas de limão, maça verde, abacaxi, flores brancas como jasmim e leve fundinho de mel. Na boca tem ótima acidez, novamente, maça verde, limão e final mineral. O álcool é médio e a persistência de boca também mediano. Preço: R$79,00

Château Julia 2011 - Chardonnay
Amarelo palha com borda transparente, com lágrimas. Aromas de fruta branca de caroço como pêssego e tb abacaxi em compota. A fruta é bem mais madura. Toque floral de Dama da Noite com média intensidade olfativa. Na boca tem toques cítricos como tangerina, amanteigado da barrica, mas não exagerado, acidez média para mais e as mesmas frutas na boca com destaque para o pêssego. Álcool de 13%. Preço: R$119,00

Amethystos Red 2009 – Cabernet Sauvignon / Merlot / Agiorgitiko
Rubi de média intensidade com reflexos transparentes e com lágrimas na taça. No nariz tem fruta vermelha, ameixa e morango, canela, toque herbal e medicinal (característicos dos vinhos gregos) , leve baunilha, taninos bem presentes (acima da média) e amargor no final. Alcool médio para mais, um tanto desequilibrado. Preço: R$99,00

Château Julia 2009 - Merlot
Rubi intenso sem reflexos, com lágrimas que descem lentamente. Nariz: menta, herbal, ameixa, bastante frescor, anis e pimenta do reino. Na boca tive a sensação de que algo estava faltando, a entrada era apimentada, ligeiramente menos tânico que o primeiro tinto degustado e na taça a fruta foi embora permanecendo só o tostado da barrica. Descida muito quente com persistência de boca média. Faltou corpo para aguentar o álcool (15%) e acidez ligeiramente baixa. Passa por barrica por 1 não e a sugestão de guarda é de 10 anos. Particularmente, não acredito que dure tanto tempo. Para um Merlot achei um tanto alcoólico. Preço: R$99,00

Oenotria Land 2007 – Cabernet Sauvignon / Agiorgitiko
Este vinho já passa 2 anos de barrica de carvalho e mais 1 ano em garrafa. De cor rubi profundo com reflexos de mesma cor apresenta lágrimas que descem lentamente sobre a parede da taça. No nariz licor de cassis, ameixa em compota, mirtilos, mentolado, pimenta preta, alecrim e tomilho. Acidez média-alta, álcool médio-alto e taninos médios-alto, conclusão de que o vinho é equilibrado. Me agradou mais. Preço: R$186,00

Por Rafael Ortiz - jornalista, trabalha nos segmentos on e off-trade, como consultor e promotor de eventos relacionados a vinhos. Este ano concluiu WSET Nível 3 – Avançado em Vinhos, Licores e Destilados da Wine & Spirits Education Trust.